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Caetano Veloso

 No dia em que eu vim-me embora

Minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui
E eu nem olhava pra trás

No dia que eu vim-me embora
Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha vó já quase morta
Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua
E até o porto meu pai

O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho
Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo
Nem dos sonhos que eu sonhava

Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada
Fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital…

Paulinho da Viola

 Um mestre do verso, de olhar destemido,

disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"

Mas eu, como sempre perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram

Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras

Que ninguém é de pedra

Gilberto Gil

 Por ser de lá

 Do sertão, lá do cerrado
 Lá do interior do mato
 Da caatinga do roçado
 Eu quase não saio
 Eu quase não tenho amigos
 Eu quase que não consigo
 Ficar na cidade sem viver contrariado
 Por ser de lá
 Na certa por isso mesmo
 Não gosto de cama mole
 Não sei comer sem torresmo
 Eu quase não falo
 Eu quase não sei de nada
 Sou como rês desgarrada
 Nessa multidão boiada caminhando a esmo

Sérgio Sampaio

 O triste nisso tudo é tudo isso

Quer dizer, tirando nada
Só me resta o compromisso
Com o desgosto e a agonia
Da manada dos normais.

O triste em tudo isso é isso tudo
A sordidez do conteúdo

Colônias de abutres colunáveis
Gaviões bem sociáveis
Vomitando entre os cristais
E as cristas desses galos de brinquedo
Cuja covardia e medo
Dão ao sol um tom lilás

Eu vejo o mofo verde no meu fraque
E as moscas mortas no conhaque
Que eu herdei dos ancestrais
E as hordas de demônios quando eu durmo
Infestando o horror noturno
Dos meus sonhos infernais

                             ************

Não há nada mais bonito
Do que ser independente
E poder se conquistar
Sair, chegar
Assim tão simplesmente

Não há nada mais tranqüilo
Do que ser o que se sente
E poder amar
Perder, chorar
Depois ganhar assim tão livremente

Não há nada mais sozinho
Do que ser inteligente
E poder cantarolar
Errar, desafinar
Assim sinceramente


Luiz Melodia

 Existe muita tristeza

Na rua da alegria
Existe muita desordem
Na rua da harmonia
Analisando essa historia
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro um palhaço

                    *****

 Tudo cruel, tudo sistema
Torre babel, falso dilema
É uma dor que não esconde o seu papel
São Carlos, morro, Borel
Eu subo e nunca estou no céu


                    *****

Tente passar pelo que estou passando
Tente usar a roupa que eu estou usando
Tente esquecer em que ano estamos     

                   *****

Eu fico com essa dor
Ou essa dor tem que morrer
Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser
Sigo enganado ou enganando meu viver



Chico Buarque

 Se lembra da fogueira

Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal, feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha falava de amor
pois nunca mais cantei, oh maninha
Depois que ele chegou

Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
Dos sonhos que você contou pra mim
Os passos no porão, lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim, oh maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou

Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinha
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Prá nunca mais voltar...

Luiz Melodia

 Existe muita tristeza

Na rua da alegria
Existe muita desordem
Na rua da harmonia
Analisando essa historia
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro um palhaço

                    *****

 Tudo cruel, tudo sistema
Torre babel, falso dilema
É uma dor que não esconde o seu papel
São Carlos, morro, Borel
Eu subo e nunca estou no céu


                    *****

Tente passar pelo que estou passando
Tente usar a roupa que eu estou usando
Tente esquecer em que ano estamos     

                   *****

Eu fico com essa dor
Ou essa dor tem que morrer
Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser
Sigo enganado ou enganando meu viver



Titãs

 Devia ter amado mais, ter chorado mais

Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos, com problemas pequenos
Ter morrido de amor.
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

Eunice Barbosa

 Qual folha que vaga sem rumo e sem vida

No espaço perdida sou eu a vagar
Qual chuva correndo nos olhos do tempo
Nos mares crescendo sou eu a chorar
Qual sombra dá noite de um céu nevoento
Que canta a tristeza sou eu a cantar
Qual mente que vai aos pés do infinito
Gritando, gritando, sou eu esse grito.

Eu sou o consumo de um sol sem calor
Enfim sou resumo do riso e da dor
Eu colho a tristeza em forma de flor
Na paz da certeza aonde canta o amor
Qual sombra da noite de um céu nevoento
Que canta a tristeza sou eu a cantar
Qual mente que vai aos pés do infinito
Gritando, gritando, sou eu esse grito.

Vitor Ramil

 Percorro a noite a Avenida Independência

Os travestis na esquina fazem-me sinais
Penso na vida, no sentido da existência
E meus sapatos pisam folhas de jornais

Por que não chuto cada poste no caminho
Não apedrejo a sinaleira que me pára
Nas madrugadas em que caminho sozinho
Pensando em nada, apenas em chegar?

Por que não mudo a minha rota se estou triste
Por que não brota a minha frente a flor do mal
Nem de repente me aborda o dedo em riste
Hercúlea sombra de um violento policial?

Não sei por que já desisti, só quero caminhar
Até que os passos meus me levem a nenhum lugar
Encontrarei então aquilo que perdi
A minha morte que fugiu quando nasci

Zé Rodrix

 Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras
Pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

Vítor Ramil

 Alcei a perna no pingo

E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão
E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china
Sempre gostei da morena
É a minha cor predileta
Da carreira em cancha reta
Dum truco numa carona
Dum churrasco de mamona
Na sombra do arvoredo
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona
Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor
Que brotou na primavera.
À noite, linda que era,
Banhada pelo luar
Tive ganas de chorar
Ao ver meu rancho tapera
Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada
O pingo tranqueava largo
Na direção de um bolicho
Onde se ouvia o cochicho
De uma cordeona acordada
Era linda a madrugada
A estrela d’alva saía
No rastro das três marias
Na volta grande da estrada
Era um baile, um casamento
Quem sabe algum batizado
Eu não era convidado
Mas tava ali de cruzada
Bolicho em beira de estrada
Sempre tem um índio vago
Cachaça pra tomar um trago
Carpeta pra uma carteada
Falam muito no destino
Até nem sei se acredito
Eu fui criado solito
Mas sempre bem prevenido
Índio do queixo torcido
Que se amansou na experiência
Eu vou voltar pra querência
Lugar onde fui parido



Eurico Campos

 Quero morrer no Carnaval,

Na Avenida Central,
Sambando,
O povo na rua cantando
O derradeiro samba
Que eu fizer chorando.

Quero morrer fantasiado de palhaço
Que sempre fui sem ter vestido a fantasia.
Eu, que vivia ouvindo risos de fracasso,
Quero morrer ouvindo risos de alegria!

Belchior

 Era um cidadão comum como esses que se vê na rua

Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua

Acordava sempre cedo (era um passarinho urbano)
Embarcava no metrô, o nosso metropolitano...
Era um homem de bons modos:
"Com licença; - Foi engano"

Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que tem no fim da tarde a sensação
Da missão cumprida

Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis

Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo)
Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto
E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto

Que a terra lhe seja leve

Fernando Brant

Há um menino, há um moleque
 Morando sempre no meu coração
 Toda vez que o adulto balança
 Ele vem pra me dar a mão

 Há um passado no meu presente
 Um sol bem quente lá no meu quintal
 Toda vez que a bruxa me assombra
 O menino me dá a mão

 E me fala de coisas bonitas
 Que eu acredito que não deixarão de existir
 Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade Alegria e amor
 Pois não posso, não devo, não quero
 Viver como toda essa gente insiste em viver

 E não posso aceitar sossegado
 Qualquer sacanagem ser coisa normal
 Bola de meia, bola de gude
 O solidário não quer solidão

 Toda vez que a tristeza me alcança
 O menino me dá a mão
 Há um menino, há um moleque
 Morando sempre no meu coração

 Toda vez que o adulto fraqueja
 Ele vem pra me dar a mão

Billy Blanco

Não fala com pobre,
 não dá mão a preto
 não carrega embrulho
 pra que tanta pose, doutor
 pra que esse orgulho

 A bruxa que é cega esbarra na gente
 e a vida estanca
 o enfarte lhe pega, doutor
 e acaba essa banca

 A vaidade é assim,
 põe o bobo no alto
 e retira a escada,
 mas fica por perto esperando sentada
 mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão

 Mais alto o coqueiro,
 maior é o tombo do coco afinal
 todo mundo é igual quando a vida termina
 com terra em cima e na horizontal

Paulinho da Viola

Hoje eu vim minha nega
 Como venho quando posso
 Na boca as mesmas palavras
 No peito o mesmo remorso.

 Hoje eu vim, minha nega
 Andar contigo no espaço 
tentar fazer em teus braços um samba puro de amor 
Sem melodia ou palavra pra não perder o valor.

 Hoje eu vim, minha nega
 Querendo aquele sorriso
 Que tu entregas pro céu
 Quando eu te aperto em meus braços.

 Guarda bem minha viola,
 meu amor e meu cansaço.

 Hoje eu vim, minha nega
 Sem saber nada da vida
 Querendo aprender contigo a forma de se viver
 As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender.

Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente

 Como quem partiu ou morreu

 A gente estancou de repente

 Ou foi o mundo então que cresceu


 A gente quer ter voz ativa

 No nosso destino mandar

 Mas eis que chega a roda-viva

 E carrega o destino pra lá


 A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

 Na volta do barco é que sente

 O quanto deixou de cumprir


 Faz tempo que a gente cultiva

 A mais linda roseira que há

 Mas eis que chega a roda-viva

 E carrega a roseira pra lá


 O samba, a viola, a roseira

 Um dia a fogueira queimou

 Foi tudo ilusão passageira

 Que a brisa primeira levou


 No peito a saudade cativa

 Faz força pro tempo parar

 Mas eis que chega a roda-viva

 E carrega a saudade pra lá


 Roda mundo, roda-gigante

 Rodamoinho, roda pião

 O tempo rodou num instante

 Nas voltas do meu coração


Oswaldo Montenegro

 Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção

Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também



Cartola

Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Quero assistir ao sol nascer Ver as águas dos rios correr Ouvir os pássaros cantar Eu quero nascer Quero viver Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Se alguém por mim perguntar Diga que eu só vou voltar Depois que me encontrar