Ele vinha com um plano costurado ao longo dos últimos anos. Descarregou sua tralha na casa velha. Encheu três peças e um galpão com livros.
A regra do seu jogo. Voltar ao estado quase natural.
Fechou-se na velha casa com seus livros e seus discos. Era um tempo sombrio, de uma tristeza silenciosa e longa. Tudo aquilo que lhe fora caro na vida estava superado. A palavra utopia tornara-se um insulto. Chovia sempre. Dias e noites se pareciam. Estava no exílio.
Passou a ser malvisto. As crianças sentiam medo dele. Adultos debochavam:
– O homem dos livros. Espalhou-se que era perigoso.
– O homem dos livros.
Os discos não chamavam atenção. Embora a música ouvida não fosse apreciada.
Nos bares, falavam dele. Pensou-se em expulsá-lo. Diziam:
– Não é certo. Não pode ser certo. Com todos aqueles livros.
– Ninguém vive assim.
Estava assentado que ele tinha ideias esquisitas. Essas ideias só podiam vir de todos aqueles livros. Depois de meses trancado em casa, Cáqui começou a andar pelos campos.
Ninguém fazia isso. Muito menos com um livro na mão.
– Só pode ser tarado – exclamavam as mães.
– Ou comunista – diziam os pais.
– Ou maconheiro.
– Ou tudo isso.
– É mais provável.
Quando souberam que ele costumava ler um livro de capa dura chamado “O processo”, descoberta de um guri que ousou se aproximar dele numa tarde de primavera, entraram em pânico.
Houve reunião na praça do cinamomo:
– Só pode ser foragido da justiça.
Então invadiram a casa e queimaram os seus livros.