Antônio Callado

      O amigo do homem desaparecido se aproximou da janela do seu apartamento tendo na mão o livro que o desaparecido dedicara a ele: “Para você, meu grande amigo”.

    O amigo olhou lá fora o mar que ia além da praia e que flambava ao sol do meio-dia. Curioso como ele tinha desaparecido de forma tão absoluta. Evaporou-se.

   Soube-se depois da sua morte que ele passara os últimos  anos de vida num lugarejo chamado Figueira Aléssio. Ninguém sabia ao certo de que modo morrera.

    “Quando parou no fim da linha o homem que ia desaparecer saltou e foi andando para a pequena casa em que morou sua família.

   Olhou-a por algum tempo e, ao percebê-la vazia, adentrou-a e revisitou seus cômodos.

   O homem que desapareceu saiu da casa,  fechou sem ruído a porta, passou em silêncio pelo portão de tábuas brancas e se foi. Como um ladrão." 

Sobre o conto Prisão Azul, edição de José  Aléssio