Álvaro Moreyra

 Saudade,

— velha torre erguida

nevoentamente

na paisagem de outono da minha alma.

Torre de onde se vê tudo tão longe...

Saudade...

Na distância, a perder-se, a voz de um sino

salma.

A luz no poente

é o pálido eco dessa voz perdida.

A alma da tarde envolve a velha torre.

E na velha torre

erguida

nevoentamente,

ondulam sete sombras silenciosas,

tecendo o sonho da minha vida...

Fico a senti-las. Lembro...

As sete sombras silenciosas...

Uma, quando chegou era novembro,

loura de sol, trazia

as mãos cheias de rosas:

— Deixa-me entrar, sou a Alegria. —

E eu lhe disse: — Bem-vinda sejas, Alegria. —

Outra, tênue, de espuma,

olhos azuis de criança,

lentos gestos de pluma,

surgiu mais tarde a mendigar pousada:

— O meu nome é Esperança.

Venho de muito além. Estou cansada. —

E eu lhe disse: — Descansa.

Bem-vinda sejas, Esperança. —

Veio depois a Felicidade,

tão linda sombra, toda em ouro acesa.

E veio a Dor, veio a Beleza,

veio a Bondade.

Uma noite, bateste. A velha torre

abriu-te as longas portas vagarosas.

E desde então, na velha torre,

tu ficaste, também, serena, inesquecida,

sombra das sombras silenciosas,

tecendo o sonho da minha vida...