O livro analisa as peças que o senso comum nos prega. Instintivo, natural, prático, o bom senso é essencial nas decisões cotidianas individuais: que roupa vestir, como pegar o metrô, quando obedecer às regras, quando ignorá-las e coisas do tipo. Mas se torna um péssimo guia para as decisões de natureza coletiva, relativas a política, Direito, economia ou cultura.
“Sempre que discutimos sobre política, economia ou a lei, usamos implicitamente nosso bom senso para extrair conclusões sobre como a sociedade será afetada”, afirma Watts. “Em nenhum desses casos raciocinamos sobre como devemos nos comportar, mas sobre como os outros se comportaram — ou se comportarão — em circunstâncias sobre as quais temos no máximo compreensão parcial.” Praticamente todas as discussões nas redes sociais padecem dessa deficiência: das cadeirinhas infantis à posse de armas, da homofobia às vacinas, da reforma da Previdência às privatizações.
“O que parece razoável a um pode parecer curioso, bizarro, até repugnante ao outro.”
Formado em física, doutor em sociologia e hoje pesquisador na Microsoft, Watts ficou conhecido pelo pioneirismo no estudo da disseminação de informações nas redes sociais (em sua tese, explorou a ideia célebre dos seis graus de separação entre duas pessoas). Com base em suas pesquisas, questiona o mito dos “influenciadores” digitais e analisa as razões reais do sucesso da Mona Lisa ou das músicas que chegam ao topo das paradas. Mostra quanto a sorte e as circunstâncias podem ser mais relevantes que conceitos difusos como talento, genialidade ou “pessoas especiais”.
Mais que tudo, Watts faz um alerta para que ninguém julgue o próprio bom senso algo especial. É comum, diz ele, amigos e colegas aceitarem seu argumento no sentido abstrato, mas o rejeitarem quando aplicado às opiniões que abraçam com força. “É como se os erros do bom senso fossem apenas dos outros, não deles próprios.”
O recado de Watts não poderia ser mais sensato: não é porque alguém discorda que é necessariamente idiota, canalha ou, para empregar o lugar-comum, “desonesto intelectualmente”. E não há nenhuma vergonha em mudar de opinião. Questão de bom senso, não parece?