Augusto Frederico Schimidt

  Às vezes eu sinto  minha alma bem viva.

Outras vezes porém ando erradio,

Perdido na bruma, atraído por todas as distâncias.

Às vezes entro na posse absoluta de mim mesmo

E a minha essência é alguma coisa de palpável

E de real.

Outras vezes porém ouço vozes chamando por mim,

Vozes vindas de longe, vozes distantes que o vento traz nas tardes mansas.

Sou o que fui …

Sou o que serei …

Às vezes me abandono inteiramente a saudades estranhas

E viajo por terras incríveis, incríveis.

Outras vezes porém qualquer coisa à-toa –

O uivo de um cão na noite morta,

O apito de um trem cortando o silêncio,

Uma paisagem matinal,

Uma canção qualquer surpreendida na rua –

Qualquer coisa acorda em mim coisas perdidas no tempo

E há no meu ser uma unidade tão perfeita

Que perco a noção da hora presente, e então

Sou o que fui.

E sou o que serei.