Caminhei ontem à noite durante horas. Era como se quisesse me perder por alguma rua nova. Me perder absoluta e alegremente. Mas há momentos em que não podemos, não sabemos nos perder. Ainda que tomemos sempre as direções erradas. Ainda que percamos todos pontos de referência. Ainda que se faça tarde e sintamos o peso do amanhecer enquanto avançamos. Há temporadas em que, por mais que tentemos, descobrimos que não sabemos, que não podemos nos perder. E talvez tenhamos saudade do tempo em que podíamos nos perder. O tempo em que todas as ruas eram novas.
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Morei em pensões ou quartos pequenos e trabalhei em qualquer coisa enquanto terminava a faculdade. E quando terminei a faculdade continuei trabalhando em qualquer coisa, porque estudei literatura, que é o que estudam as pessoas que terminam trabalhando em qualquer coisa.
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Aprender a contar sua história como se não doesse. Mas é uma armadilha colocar a coisa desse modo, como se o processo terminasse um dia.