Belchior
O que é que pode fazer o homem comum
Neste presente instante senão sangrar?
O que é que eu posso fazer
Um simples cantador das coisas do porão?
Botas de sangue nas roupas de Lorca
Olho de frente a cara do presente e sei
Que vou ouvir a mesma história porca
Não há motivo para festa: Ora esta!
Eu não sei rir à toa!
Fique você com a mente positiva
Que eu quero é a voz ativa
Pois sou uma pessoa
Esta é minha canoa: Eu nela embarco
A palavra pessoa hoje não soa bem
Pouco me importa!
Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: Conheço o meu lugar!
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Não quero regra nem nada
Tudo tá como o diabo gosta,
Já tenho este peso, que me fere as costas
e não vou, eu mesmo, atar minha mão
O que transforma o velho no novo
bendito fruto do povo será
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter
é nunca fazer nada que o mestre mandar
Sempre desobedecer
Nunca reverenciar.
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Quero desejar, antes do fim,
pra mim e os meus amigos,
muito amor e tudo mais;
que fiquem sempre jovens
e tenham as mãos limpas
e aprendam o delírio com coisas reais.
Não tome cuidado.
Não tome cuidado comigo:
que eu não sou perigoso:
- Viver é que é o grande perigo