Paulo Vanzolini

 O tempo e o espaço eu confundo

A linha do mundo é uma reta fechada
Périplo, ciclo
Jornada de luz consumida e reencontrada

Não sei de quem visse o começo
Sequer reconheço
O que é meio, o que é fim
Pra viver no seu tempo
É que eu faço viagens no espaço
De dentro de mim

As conjunções improvaveis
De órbitas estáveis
É que eu me mantenho
E venho arimado um verso
Tropeçando universos
Pra achar-te no fim
Nesse tempo cansado de dentro de mim               *****

Quando eu vim da minha terra
Passei na enchente nadando
Passei frio, passei fome
Passei dez dias chorando
Nos passos desse calvário
Tinha ninguém me ajudando
Tava como um passarinho
Perdido fora do bando
Com dois meses de viagem
Eu vivi uma vida inteira
Sai bravo, cheguei manso
Macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra
Me deu lição verdadeira
Coragem não tá no grito
E nem riqueza na algibeira
E os pecados de domingo
Quem paga é a  segunda-feira 

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Gente da nossa estampa não pede juras nem faz,
Ama e passa,  não demonstra sua guerra, sua paz

O vento vai pra onde quer, a água corre pro mar
Nuvem alta em mão de vento é o jeito da água voltar

Se acaso um dia tempestade te apanhar
Não foge da ventania, da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar