Todos os dias, num local à beira de uma estrada deserta, Vladimir e Estragon, esperam Godot. Mas nada acontece, ninguém chega, ninguém parte. E Godot, que não saberemos quem é ou o que significa, nunca virá. Para preencher o tédio dos dias vazios e sempre iguais, Vladimir e Estragon falam um com o outro até a exaustão, mesmo sem terem nada que dizer.
Se a espera é certa, se as respostas não virão, o melhor mesmo é “jogar” a vida, mesmo que de vez em quando paremos para refletir a respeito das perguntas sem resposta e sentir o peso da existência. E é dessa falta de noção que surge com grande força a constatação maior da obra de Beckett: a vida é assim mesmo, o jogo é esse. Eles tentam outra e outra vez… Um dia, outro dia… Tédio, desesperança, jogos, ações… As cabeças deles não param, mas os corpos estão cansados.
Sem ter mais o que fazer, os dois sofrem porque estão vivos, sofrem porque não conseguem se livrar da vida, mas mais que isso sofrem porque são incapazes de falar com propriedade sobre seu próprio sofrimento. A partir de uma linguagem propositalmente pobre, o que resulta do tom prosaico e aparentemente canhestro dos personagens é uma poesia e tanto.
Beckett em sua obra nos diz, a todo momento, que o fim se aproxima, que a morte espreita, que o jogo irá acabar. Mas ao mesmo tempo cria belas jogadas, jogadas patéticas, jogadas engraçadas, jogadas líricas, fazendo com que os personagens caminhem em uma linha tênue sem saber ao certo se representam ou vivenciam suas experiências.
Deus. Liberdade. Morte. Esperança. Muitos foram os nomes que Godot recebeu. Mas, como o personagem do irlandês Samuel Beckett (1906-1989) nunca deu as caras para dizer quem era – ou a que veio ou aonde iria -, sua verdadeira identidade permanece um mistério literário.