Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o fim?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olho o relógio da torre:
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Sessenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos voltam para suas casas.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1958 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a mim uma esperança mínima.
Edição: José Claisson Aléssio