Vinícius de Moraes

 Há dias que eu não sei o que me passa 

Eu abro o meu Neruda e apago o sol 

Misturo poesia com cachaça 

E acabo discutindo futebol 

Acordo de manhã, pão sem manteiga 

E muito, muito sangue no jornal 

Aí a criançada toda chega 

E eu chego a achar Herodes natural 

Depois faço a loteca com a patroa 

Quem sabe nosso dia vai chegar 

E rio porque rico ri à toa 

Também não custa nada imaginar

Aos sábados em casa tomo um porre 

E sonho soluções fenomenais 

Mas quando o sono vem e a noite morre 

O dia conta histórias sempre iguais 

Às vezes quero crer mas não consigo 

É tudo uma total insensatez 

Aí pergunto a Deus: escute, amigo 

Se foi pra desfazer, por que é que fez?