Juremir Machado da Silva

 Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Eu fui condenado sem merecimento, por um sentimento, por uma paixão. Sei que detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer. Explode coração. Por isso eu peço, senhora Liberdade, abre as asas sobre mim. Só me resta pedir uma ideologia, eu quero uma pra viver, pois tudo muda,  e eu só queria ter do mato um gosto de framboesa pra correr entre os canteiros e esconder minha tristeza. Tudo muda, mas eu continuo o mesmo, eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do Interior.


E assim se passaram dez anos sem eu ver teu rosto, sem olhar teus olhos. É por isso que tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar. Então eu quero uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais. Uma voz interior me diz: se pensas que pensas estás redondamente enganado. Outra, sussurra: Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue.

Todo artista tem de ir onde o povo está. Eu já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver, pois a vida me fez assim, eu caçador de mim. Aprendi que o amor é um grande laço, um passo pr’uma armadilha, um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha. Eu me lembro com saudade o tempo que passou e quero apenas estar no seu pensamento, por um momento pensar que você pensa em mim.

Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado trajando luto me lembrou que naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.  Oh tristeza, me desculpe, estou de malas prontas. Minha vida é andar por este país pra ver se um dia descanso feliz. Vida, leva eu. Ô, vida de gado, povo marcado, ê! Povo feliz! Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão. Olha, está chovendo na roseira e se já perdemos a noção da hora, se juntos já jogamos tudo fora, me conta agora como hei de partir.