Juremir Machado da Silva

 Saio cada vez menos. Não bebo álcool faz alguns anos. Fico perdido nas conversas. Creio que já passei da idade de fazer novos amigos. Cada vez mais eu me apego aos antigos. Chego a cavoucar na internet nomes de amigos de infância. Quando os localizo, desisto de ir ao encontro deles. Fico feliz em saber que estão por aí. Outro dia, procurei o Cáqui. Achei-o depois de muita luta. Mora em Figueira Aléssio. Não o surpreenderia com a chatice de um telefonema depois de 45 anos:

– Alô…
– Aqui é o Juremir…
– Que Juremir?!!
– Eu tinha uma bola amarela…
A amizade é estranha. Ela se agarra a um elo invisível. Sou um sujeito bizarro. A presença de um amigo vale para mim mais do que mil palavras. Posso ficar em silêncio ouvindo a respiração do tempo compartilhado. Não sei se tenho muito a dizer. Pode ser que aos meus melhores amigos eu já tenha dito tudo o que podia.
 A amizade dispensa os fatos, as notícias, o futebol, as doenças, os inventários, as novidades e as confissões.  A verdadeira amizade é uma espécie de catedral onde rezam em silêncio aqueles que se comunicam por sentimentos. E os amigos que partiram? Quando faço a lista, sinto o peso do tempo e a alegria do vivido:
– Eu tive amigos – exclamo para mim e me sinto feliz.
Eu tenho amigos, completo. No ônibus, encontrei uma amiga. Não nos víamos há uns 10 anos. Por trás da sua nova imagem havia a velha fotografia. Por trás dos cabelos curtos, os longos cabelos de antes.
– Passamos – ela disse.
– Juntos – eu falei.
Ela desceu na sua parada. Eu segui no meu banco. Sorrindo. Não sou de expansões. Uma velha amiga me cobra por abraçar e beijar pouco. Na catedral da solidão bem vivida olho meus amigos nos olhos e basta.

edição: José Aléssio