Memórias do Subsolo, de Fiódor Dostoiévski, não é uma obra fácil. É curta, pouco mais de cem páginas. Mas é muito densa. O narrador sem nome, o Homem do Subsolo, é um personagem profundamente atormentado. Muda de ideia o tempo todo, corrige o que acabou de dizer, confessa que mentiu.
Na primeira parte, falando do seu tempo presente, nos conta que tem quarenta anos, está doente, abandonou um cargo público humilde porque recebeu uma herança modesta e vive isolado da sociedade. Conhecemos sua visão de mundo. É culto, instruído, inteligente. Tem um profundo desprezo pelas pessoas e pela sociedade, mas tem um desprezo maior por si mesmo.
Na segunda parte, narra três histórias que aconteceram com ele catorze anos antes, e que ilustram suas dificuldades em se relacionar com as pessoas.
Temos vontade de voltar a São Petersburgo de 1860 e socar o Homem do Subsolo. Como ele pode ser tão idiota? Como pode dar tanto valor ao que é irrelevante e prejudicar tanto a si mesmo e aos outros?
Porém, não temos como discordar de parte das ideias que ele defende. E defende de maneira especialmente dolorosa para si mesmo.