Leonardo Mendes

Talvez esse seja o nosso apocalipse. Uma epidemia de loucura, que por já ter nos afetado, não percebemos. É diferente de uma epidemia de cegueira, de sono ou que nos transforme em zumbis. Um louco não sabe quando ficou assim, nem mesmo se de fato é ele que está louco ou se são ou outros. Uma personalidade local de Ipanema, conhecida como Mulher de Branco, disse-me certa vez que ficou louca depois que uma manga caiu na sua cabeça. “Eu tava lá embaixo da árvore, a manga caiu e eu fiquei louca”. Acredito que ela estivesse sendo irônica. O fato é que, segundo especialistas, passamos dos limites. Tornou-se insalubre a convivência em sociedade, e o motivo é que cada um de nós está preso no próprio delírio, completamente incapaz de penetrar na maluquice do outro. Sentir raiva diante da demência alheia não seria um sintoma? Ou o que sentimos é apenas desgosto e tristeza, pelos outros e por nós mesmos, pela nossa incapacidade de curá-los? De todo modo, conversamos mais com nós mesmos, ouvindo o eco das nossas próprias palavras ressoarem entre nossos pares. Ou seja, como loucos que somos, falamos sozinhos, ainda que acompanhados. E esperamos. Esperamos por Godot e pela morte, mas estamos tão loucos que não sabemos disso. Esperamos pelo fim da loucura, como sobreviventes que acreditamos que somos.