Balada de Narayama
Balada de Narayama
Narayama-bushi kô (Balada de Narayama), é um filme dirigido por Shohei Imamura e vencedor da palma de Ouro no Festival de Cannes em 1983. Baseado na lenda Ubasuteyama, do Japão antigo, Shohei Imamura nos conta a história sobre o Monte Narayama em cujo sopé, na época de um Japão feudal extremamente pobre, vive uma comunidade de aldeões agricultores. Os velhos, ao completarem 70 anos são levados ao Monte Narayama para ali morrerem.
Este filme aborda temas caros à alma, tendo como pano de fundo a luta pela sobrevivência em meio à miséria e as grandes questões que afligem desde sempre a humanidade. Lançados em ambiente hostil os valores morais esmaecem à sombra de necessidades mais fortes e urgentes. Os aldeões miseráveis sublimam a morte do septuagenário revestindo-a com valores morais altruístas. As relações familiares e sociais apresentam-se degradadas e avançam condicionadas unicamente pela necessidade de sobrevivência.
A morte e o seu entorno psicológico e físico são o tema central da obra de Shohei Imamura. A psique humana na tentativa de aceitação da mais excruciante dor do homem, cria o benévolo Deus do Monte Narayama em cuja companhia encontram-se, sempre dispostos a receber os vivos, os espíritos dos parentes e amigos ali deixados para morrer. Se por um lado há esse enlevo espiritual experimentado pela sublimidade da ideia do abrigo divino, no outro extremo, o consciente se aliena tentando manter sua sanidade ao se distanciar de humanos sentimentos, tornando a morte fato natural e corriqueiro, portanto, aceitável.
A ausência de qualquer tipo de arte e lazer, cria no imaginário popular crendices e fantasias variadas que se misturam à realidade. Entenderemos melhor os fatos e a moral daquela comunidade quando nos apercebemos que nós é que estamos fortemente condicionados, por uma sociedade de paradigmas morais estabelecidos e aceitos como válidos, sem que nunca tenhamos tido consciência de que são valores válidos em condições normais de convivência social onde, em tese, não nos faltam alimento nem teto.
Esgarçadas essas condições, Imamura mostra-nos a conseqüente modificação dos paradigmas: deterioradas sob a óptica da moral, porque próximas da nossa animalidade. Aos olhos da natureza, entretanto, é apenas a vida que segue acomodando suas forças biológicas no vácuo das forças sociais.
Edição de texto: José Claisson Aléssio