Em A lenda do Santo Beberrão personagem principal é um mendigo alcoólatra que vaga pelas ruas de Paris e dorme sob as pontes do Sena. Um dia, alguém lhe dá uma soma em dinheiro com a condição de que deve restituir a quantia à igreja de Santa Tereza de Lisieux quando puder, se puder.
O relato amolda-se à perfeição às ideias sobre o pecado, o arrependimento e a remissão. É, obviamente, um filme cristão, mas não carola. Trata de seguir, de maneira inesperada, um trajeto possível de iluminação.O mendigo recebe o dinheiro, mas não como doação. É um empréstimo, cuja garantia é sua honra, talvez sua fé. Mas, enquanto ele o tiver em mãos, poderá recuperar sua dignidade.
Na história, várias vezes o mendigo tem a quantia e está decidido a restituí-la à santa, mas, de uma maneira ou de outra, algo acontece e ele não consegue fazê-lo. As situações se sucedem à maneira de uma parábola, sem um sentido realista obrigatório, na qual ele será confrontado com seu passado.
O filme é extremamente belo, mas nunca de uma beleza vazia. A estética, aqui, é colocada a serviço de ideias a serem discutidas, ou melhor, talvez: sentidas, uma vez que fé e iluminação não passam por categorias do discurso racional.
Desse modo, A Lenda do Santo Beberrão não é filme de proselitismo religioso. Ele trabalha com categorias do espírito, mas não as impõe à maneira de catequese ou de ameaça. Apenas sugere que existe alguma transcendência em qualquer vida, mesmo na vida miserável de um mendigo alcoólatra.
Luiz Zanin