Álvaro de Campos

 No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.

É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo.