Paulo Bomfim
Eu sou aquele menino que o tempo foi devorando, na rotina dos sapatos.
Mãos afagando lembranças, olhos fitos no horizonte à espera de outras manhãs.
Aí paletós, aí gravatas, aí cansadas cerimônias, aí rituais de espera-morte!
Quem me devolve o menino sem estes passos solenes,
Sem pensamentos grisalhos, sem o sorriso cansado!
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Passarei porque sou feito de filamentos do tempo.
Sumirei dos corações, de lembranças, de registros, de improváveis certidões,
Irei como quem chegou, ou melhor, nunca nasceu;
Nem lembranças figuradas, obrigações de saudade ou graça que se transmite.
Passarei por vosso mundo sem indícios de endereço, sem vestígios, no avesso de vossas almas!
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... Mas deixai-me poetar em nome dos que não sonham, dos que calçam desespero, dos fugitivos, dos vencidos, dos inocentes que esperam.
- Que eu cante a vida que passa e os destinos sem destino, e meus versos sejam potros onde as crianças galopem. Sou feito de tudo e nada. ... Mas deixai-me poetar!
edição: José Claisson Aléssio